Foi-se o tempo em que apenas os jovens usavam a pele e um pouco de tinta para se expressar de forma orgulhosa e divertida
O casal Elmireno Mendes, 74 anos, e Rosa Maria Hansen, 69 anos, mostram com orgulho suas tatuagens. Fotos: Fernando Zequinão/Gazeta do Povo.
Tão antiga quanto à própria humanidade, a tatuagem já foi encarada como prática de rituais religiosos, marcação de prisioneiros e escravos, entre outras atribuições. Hoje, ela é vista como ornamentação, seja para registrar um momento marcante, cobrir uma marca indesejada ou contar uma história. E engana-se quem pensa em tatuagem como uma tendência somente entre os jovens.
A sociedade está mais aberta e é comum encontrar pessoas com mais de 60 anos exibindo seus desenhos marcados no corpo. Marcelo Marzari, que há 16 anos trabalha como tatuador profissional, confirma que a tatuagem está em alta, principalmente entre as pessoas dessa faixa etária. “Eles estão atentos às tendências na questão estética, cultural e artística”, aponta. Para Marcelo, este também é um artifício de autoafirmação e os desenhos representam uma forma de expressão individual, embora ainda existam tabus relacionados aos tatuados, principalmente, depois dos 60, estabelecidos muitas vezes por questões familiares.
Para os vovôs e as vovós que estão pensando em fazer uma tatuagem, a dermatologista do Hospital Marcelino Champagnat, Talitha P. Chaves, alerta para os cuidados necessários para qualquer pessoa, independente da faixa etária, principalmente para aquelas acima de 60 anos. Ela explica que, com a idade, os indivíduos perdem quantidades importantes de colágeno e ácido hialurônico, substâncias essenciais para a manutenção da estrutura da pele, resultando em camadas mais finas e com grande fragilidade capilar.
O tatuador Marcelo ressalta também que com a pele mais flácida, o profissional que irá fazer uma tattoo precisa ter cuidado redobrado quanto ao material utilizado e o desenho escolhido, para garantir a durabilidade da tatuagem conforme as modificações naturais da pele. “Compete ao tatuador conversar e instruir o cliente sobre os desenhos que trabalham melhor com a pele dele”, garante.
“TATUAR O NOME DO OUTRO, SÓ DEPOIS DOS 65 ANOS.”
Rosa Maria Hansen, 69 anos, que tatuou aos 66 o nome do marido, Elmireno Mendes, hoje com 74. Ele, é claro, também imprimiu o nome da amada na pele.
Além de naturalmente mais sensíveis à dor, durante o procedimento em idosos, há maior risco de sangramento, rasgadura da pele e pequenos ferimentos. Por isso, a dermatologista reforça que, ao realizar a aplicação, o indivíduo deve observar reações adversas. “A cicatrização das pessoas acima dos 60 anos é mais lenta. Entre 7 e 10 dias, é normal que o local fique avermelhado e inchado. Mas caso esses sintomas persistam, é melhor procurar um profissional”, alerta Thalita.
Forma de amor
O casal Elmireno Mendes, 74, e Rosa Maria Hansen, 69, é o exemplo de que tatuagem não tem idade. Ele, na verdade, sempre teve vontade de fazer uma. Mas na década de 1960, os preconceitos da família e da empresa em que trabalhava fizeram com que adiasse o desejo. Em 2008, aos 66 anos, Mendes resolveu fazer sua primeira tatuagem.
Quem já fez uma tatuagem reconhece que é difícil parar na primeira. “Sempre vem aquela vontade de fazer outras”, comenta Mendes. Foi então que, em 2009, ele com 67 e Rosa Maria com 63 anos, resolveram tatuar o nome um do outro no braço. “Eu fiz a tatuagem mais por causa dele, porque eu mesma nunca tive vontade e na minha família ninguém tem”, recorda ela. Mesmo assim, o casal não parou por aí. Em 2010, juntos novamente, eles fizeram o desenho: ele, uma rosa, em homenagem à companheira, e ela, borboletas.
Detalhe das tatuagens do casal em seus antebraços. Foto: Fernando Zequinão/Gazeta do Povo.
Ambos contam com orgulho que as pessoas ficam admiradas e, algumas vezes, até param para comentar sobre a arte. “Quando vamos à missa, na hora de rezar o Pai Nosso, ele faz questão de colocar o braço bem pra cima para mostrar a tatuagem”, revela Rosa Maria. Os dois confessam a possibilidade de fazer outros desenhos e, antes de finalizar a conversa, ela deixa um recado para os jovens: “tatuar o nome do outro, só depois dos 65 anos”, brinca.